O Novo Aluno acaba de ser tornar numa das minhas leituras favoritas deste ano!
Um retelling de Otelo de Shakespeare extremamente inteligente!
A premissa é bastante simples, um novo aluno chega a uma escola e de repente surgem alianças e intrigas levam a um desfecho trágico. A história passa-se em Washington D.C nos anos 70 e o nosso Otelo é um jovem negro filho de um diplomata chamado Osei. O livro é brilhante a vários níveis, primeiro a maneira como demonstrou como o racismo continua igual com o paralelo de Otelo.
As situações de descriminação são fortes e as mais chocantes são aquelas de um racismo não voluntário e já tão intrincado nas cabeças que o fazem, que na verdade nem se apercebem.
Outra adaptação brilhante foi a escolha do cenário. A trama de Otelo passa-se num recreio. Temas como a paixão, a intriga, o ciúme e o racismo são explorados do ponto de vista das crianças e transpostos de maneira assustadoramente crua.
Todo o livro se passa em apenas um dia, o que confere à obra uma intensidade enorme! Aliás, li o livro em quatro assentadas. Sente-se uma aura da peça de teatro enquanto o drama se desenvolve, as conexões entre as personagens começam a ganhar vida e sente-se a tensão acumular para o final. Aqueles miúdos. Algo de muito errado se passa.
Ian é o vilão perfeito, manipulador e dissimulado torna a leitura nervosa e impele-nos a continuar rapidamente. Pior é um miúdo! A crueldade do recreio e os ensinamentos de casa espelhados naquela escola retratam tão bem uma sociedade actual - dos anos 70 para 2017 não se evoluiu grande coisa, não senhora.
E claro, o arrebatador final! A escrita de Chevalier explora magnificamente o tema e reconta Otelo como ninguém podia ter imaginado.
Uma das melhores leituras de 2017! Uma grande aposta da Bertrand! Profundo e magistral, leiam O Novo Aluno.
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