BD | O Castelo dos Animais Tomo 2 de Delep e Dorison


O Castelo dos Animais é das minhas BD franco-belgas favoritas e ponto!


O segundo volume de O Castelo dos Animais continua a rebelião causada por Margarida contra o presidente Silvio e que livro! Esta nova interpretação -- e em parte continuação -- do romance A Quinta dos Animais de George Orwell consolida a sua posição nas melhores BD da temática. Desta vez a gata Miss Bengalore toma o lugar de líder da revolta mas nem sempre é fácil o ser nem o fazer de forma pacífica. 


Se achei o primeiro volume negro e provocador, este segundo tomo intensificou-o. Ressalvo dois momentos que me foram particularmente difíceis de ler sem verter uma lágrima. A metáfora das coleiras com guizo a substituir a estrela de David e o momento final no qual a carga emocional é elevada, fazem brilhar esta obra. Fazem com que eu pense como há certos livros que todos devíamos de ler e mais, aprender com eles. 


As personagens espelham a sociedade -- que gostaria de dizer que apenas datava do século XX, todavia vem provar-se o oposto desde os anos 2010. Os cães de guarda como representação das SS e SA e a desumanidade dos seus líderes (que me parecem ser o Número 1, Himmler e o Número 2, Goebbels) bem como os movimentos sociais e contornos políticos tomados pela revolta, elevam a obra. O conceito de comunismo marxista e o conceito de autoritarismo e de capitalismo convergem numa discussão da filosofia política tomada pela forma de fábula. De quem deve ser a lenha recolhida? Quem deve pagar por ela? É a lenha de todos ou só daqueles que têm mais poder?


Também, o papel das famílias (entenda-se que aqui está representado pela Miss B e pela sua ninhada), o papel do cidadão comum (representado pelo bode e galinhas), o papel dos pensadores (aqui o rato) e daqueles que estão embrenhados no nefasto sistema social e jogam com a dualidade da moral (o coelho) emerge numa fantástica obra. 

A arte é lindíssima, custa a crer que Delep tenha apenas 27 anos e uma mão tão precisa. Os animais antropomórficos estão desenhados e coloridos de uma maneira que igualaria a trabalhos dos principais estúdios de animação como Disney ou Ghibli. Capta a tristeza, amor e repulsa de uma maneira que vos posso assegurar a pés juntos que estaremos perante um artista conceituado em pouco tempo.


Os ingredientes pesados parecem tornar a obra em algo massudo mas desenganem-se. Eles estão lá para quem os quiser ver, os que se mantém cegos apenas verão uma história de uma gata que quer lenha grátis para os seus gatos e de um touro mau. A questão que se impõe é: estarão cegos porque querem ou porque não querem ver?

Se quiserem "ver" leiam. E leiam O Castelo dos Animais Tomo 2. Não porque é só uma obra belamente editada pela Arte de Autor mas também porque é uma obra essencial.





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