Saboroso Cadáver: um banquete de crueldade humana



A distopia apresentada por Agustina Bazterrica em "Saboroso Cadáver" é um soco na consciência, um alerta perturbador sobre a direção que a humanidade poderia seguir em busca da sobrevivência. Neste futuro sombrio, onde um vírus torna a carne animal mortal, a sociedade deixa de ver os menos privilegiados como seres humanos, relegando-os à condição de "carne especial".

A história segue Marcos, cuja carreira no abate de humanos é retratada com uma brutalidade que reflete a brutalidade do próprio mundo. A narrativa, desde o início, mergulha-nos nas entranhas de um matadouro, um lugar onde a desumanização é a norma. Marcos, um protagonista vazio e sem humanidade, é um reflexo do ambiente ao seu redor.

O livro desafia o leitor com gatilhos de canibalismo, violência extrema e temas pesados, empurrando-o para um território desconfortável. Bazterrica não busca redenção ou heróis em sua narrativa; em vez disso, ela pinta um retrato frio e desolador do pior da humanidade.


Ao explorar a jornada de Marcos, a autora não proporciona alívio emocional. A ausência de redenção ou empatia pelo protagonista transforma a leitura em uma experiência angustiante. O mundo cruel, criado pela legalização do canibalismo, questiona a moralidade e ética humanas, deixando o leitor a refletir sobre as escolhas feitas em nome da sobrevivência.

"Saboroso Cadáver" é, sem dúvida, uma obra perturbadora, mas é precisamente essa perturbação que alimenta a reflexão. A trama estabelece paralelos vívidos com a nossa sociedade, fazendo perguntas sobre o consumo desenfreado de carne e a ética da indústria agroalimentar. A edição da Darkside, editora brasileira, com sua estética macabra e detalhes cuidadosos, complementa perfeitamente a atmosfera sombria do livro

"Saboroso Cadáver" não oferece esperança ou redenção, mas, ao contrário, fornece um espelho sombrio que nos confronta com a selvageria potencial da humanidade. Uma leitura que deixa um eco perturbador, desafiando-nos a questionar até onde estaríamos dispostos a ir em busca da sobrevivência.

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