Ficção Científica | Fahrenheit 451 de Ray Bradbury


Fahrenheit 451 é tudo o que um livro deve ser. Profundamente crítico e chocante, Bradbury aproxima-se da genialidade.


A premissa é simples, no futuro os bombeiros não apagam mais fogos, mas, sim fazem-nos. Os bombeiros queimam livros, todos os livros porque estes trazem inquietação, discórdia e infelicidade aos leitores. O melhor é privá-los do conhecimento e tal como Eva ou Pandora nunca comer a maçã ou abrir a tampa do jarrão. 


O livro acompanha a semana de Guy Montag, um desses bombeiros, e é através dele que o leitor embarca numa das mais brilhantes jornadas da literatura. É um livro especial para os leitores, se são como eu e têm passado a vida a ler e a pensar sobre o que lêem, Fahrenheit 451 é sobre isso mesmo. Sobre a jornada daqueles que lêem e sobre a sociedade. O mundo de Montag é desconectado da realidade. As pessoas têm trabalhos mecânicos e científicos, os ecrãs e o entretenimento fast food é tudo o que há. As conversas são ocas e os humanos vazios. 


Bradbury conversa com o leitor através de Montag, através de diálogos céleres e da constatação do mundo em que vive. A escrita é soberbamente inteligente pontilhando a obra de referências a outros livros emblemáticos, especialmente por parte daqueles que supostamente não os deviam ler. 


Aborda temas como a depressão, alheamento, ignorância, poder, conhecimento, cultura, sociedade, entre outros. É um privilégio virar a página e continuar nesta aventura crítica que Bradbury nos lançou. Se são como eu e se dedicaram academicamente ao estudo das humanidades, este livro trará das passagens mais brilhantes que verão. Afinal de contas, nós, leitores, sempre nos preocupámos mais sempre com o porquê ao passo do como. Fahrenheit 451 é o porquê, o porque é que lemos, porque é que devemos ler, porque é que devemos pensar e agir.  


Se vivemos agora num mundo de redes sociais, de swipes, selfies,  fake news e ciências tecnológicas em detrimento das humanidades,  é o momento de pegar em Fahrenheit 451.
 É horrivelmente magnífico pensar como Bradbury se tornou num visionário. Uma obra não só obrigatória na casa de todos os leitores, mas, sim na casa de todos os seres humanos. 


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