Entrevista com o grande Steven Erikson





Na Comic Con Portugal e a convite da Saída de Emergência tive o privilégio de entrevistar Steven Erikson, autor da Saga do Império Malazano e fervoroso fã da fantasia - coisa que aqui no blog nem se percebe *cof cof* 
Antes de mais agradeço imenso a ambos. 

      

(Erikson tem de voltar a Portugal com o seu novo livro de FC - SdE contamos convosco!)



Jardins da Lua tem uma enorme inspiração grega. Como é que acha que isso afecta o típico leitor de fantasia ?

É um mundo co-criado com Ian Cameron Esslemont em role playing, e como somos ambos antropólogos e arqueólogos aplicámos o nosso pensamento. A estrutura básica é muito como A Ilíada. Os Deuses são activos no mundo, interagem e manipulam os morais, isso para nós torna-se diferente com o acesso ao poder. O poder e o risco funcionam para ambos os lados. Em termos do nível tecnológico é muito parecido com o império romano bizantino. A razão pela qual o escolhemos era precisamente pela multi-culturidade. Acabar com essa visão eurocentrica e medieval! O ethos que está na fantasia. A fantasia como género está aberta a todas as opções! Quando começamos a impor uma visão eurocentrica, colocamos uma série de pressupostos. Uma delas é o patriecado e outra delas o sistema de classes. O que nos queríamos precisamente evitar. 


Há quem advogue que o sistema patriarcal está presente da fantasia porque "era assim no tempo medieval".  Então,  não concorda?

Se vamos trazer uma visão medieval na fantasia, temos de perguntar como a magia poderá afectar algo como patriarcado. Como é que adquiram as capacidades mágicas tem de ser definido. Na minha história são ganhas através disciplina e interesse, não é baseado em nascimento, genética ou género. O que significa que magia é poder e se temos poder em qualquer um, não poderá existir um sistema patriarcal. Mesmo se fossemos puxar um sistema eurocentrico medieval, assim que colocamos magia e como é adquirida, isso afecta as pessoas. Deste modo, o argumento que "isso é como era no mundo medieval" não cola. A partir do momento que há magia tudo muda. 


Crê que os leitores se relacionam mais com emoções do que com a trama e o ambiente? 

Sempre. Não importa que espécie se cria, inicialmente todos escrevemos sobre a condição humana. Podemos camufla-la com deuses ou o que quisermos. Mas no cerne estamos sempre a falar da humanidade, porque não podemos sair da mente de sermos humanos - apesar do nosso mundo fantástico. No fim, acabamos sempre por explorar a condição humana. 

Algumas das suas personagens têm milhares de anos, quão difícil é construir uma personagem com tantas memórias?

Bem, é algo estrutural que eu aprendi rapidamente, porque tentei escrever sobre o ponto de vista de uma personagem com 3000 anos e apercebi-me que não o conseguia fazer. Porque não tinha a mais pálida ideia de como seria. Essas personagens com milhares de anos acabaram por não ser "personagens ponto de vista", construí à volta delas. Através dos mortais, o que as eleva sem ter de entrar nas suas cabeças. 

Hoje em dia a fantasia está na moda, em parte devido à série Game Of Thrones da HBO. Tem medo de ver o seu mundo adaptado à televisão ou ao cinema?

Eu adoraria vê-lo! Estive bastante perto. Tinha um contrato que acabou por não ir em frente mesmo à última da hora. Era para os três primeiros livros da série e seria uma série de televisão. Estou bastante predisposto para ir nessa direcção. Contudo, temos sempre de ter em mente que os media são a sua própria criação. Ouvimos fãs leitores a toda a hora dizer: "Ah, isso não estava no livro". Mas é uma nova forma e diferente de fazer arte.

Os fãs do Bookaholic Kingdom tinham algumas questão para si. Uma delas era qual é o seu livro favorito?

O meu livro favorito? Terei um livro favorito? Muda a toda a hora. Três livros que eu gostei mesmo  recentemente foram New York 2140 de Robinson, After On de Rob Reid e os livros da Becky Chambers. Sou um grande fã de Becky Chambers. Todos eles FC, não ando a ler fantasia ultimamente. 

A última questão dos fãs era: quando seriam os seus livros adaptados para a TV?

Não sabemos. Mas, há uma tentativa de um acordo em cima da mesa com a Netflix do Canadá neste momento!

Muito obrigada 💛💛💛



Enviar um comentário

2 Comentários